Assim, inaugura-se a Era da Representação. Por um lado, os desdobramentos da idéia teórico-filosófico-cartesiana (princípio das idéias claras e precisas) e a conseqüente reverberação em todas as áreas do saber. De outro lado, a proposição empírica dos fatos e das coisas, isto é, as “Idéias” e as constatações empíricas caminham... Vão juntas. Desse modo, no equilíbrio da balança, a teoria organiza-se segundo o estilo da linguagem matemática, ou melhor, seguindo os paradigmas explicativos matemáticos - que passa a ser o discurso eficaz no nível das constatações. Rompidos os laços com a tradição e construída a moderna concepção de mundo sob a égide da ruptura, as verdadeiras implicações resultantes desta nova postura filosófica relacionam-se diretamente com a perda de certeza (não confundamos com Verdade) que anteriormente havia nos depoimentos ditados pela razão e pelos sentidos. Enfim, a suspeita, a desconfiança nas faculdades humanas, despertada pelo “cogito” cartesiano (cujo ponto de partida reside na famosa máxima: “Penso, logo existo”), isto é, o homem em busca da verdade não pode confiar na evidência dada pelos sentidos, foi um dos elementos que fomentou o surgimento do pensamento moderno. A partir daí, o homem é lançado diante do nada e de ninguém a não ser de si mesmo. Nesse caso, irrompe o “homem desesperado”, desconfiado de suas certezas (em muitos casos evidentes!), porque não mais acredita no aparelho cognitivo (nos sentidos) como instrumento ou faculdade humana para lhe revelar a verdade objetiva; trata-se, enfim, de um indivíduo que rompe com as concepções filosóficas comprometidas em estabelecer a verdade enquanto eterna. Assim, com o surgimento deste indivíduo, agora recolhido dentro de si, agrava-se progressivamente a desimportância do filósofo no mundo moderno. Com efeito, a teoria liberta-se da intuição, da contemplação e o filósofo deixa de ser um “mestre da verdade”. Segundo palavras de Hannah Arendt:
“A noção de ‘teoria’ mudou de significado. Não mais significou um sistema de verdades razoavelmente conectadas que, enquanto verdades, não foram construídas, mas dadas à razão e aos sentidos. Tornou-se, ao invés disso, a teoria científica moderna, que é uma hipótese de trabalho que muda conforme os resultados que produz e que depende, para sua validade, não do que ‘revela’, mas do fato de ‘funcionar’. Pelo mesmo processo, as idéias platônicas perderam seu poder autônomo de iluminar o mundo e o universo. Primeiro, tornaram-se aquilo que haviam sido para Platão apenas em relação ao domínio político: padrões e medidas, ou as forças limitativas e reguladoras da mente raciocinante do homem, como aparecem em Kant...”
Crise de paradigmas! Ancorados em argumentos de Hilton Japiassu, em “Introdução às Ciências Humanas” (1994), interrogamos: é possível, afinal, adequarmos as Ciências Humanas ao mesmo tipo de inteligibilidade operatória da Física?
Na verdade, as Ciências Humanas ao pretenderem o rigor dos modelos físico-matemáticos converteram-se em Ciências sem o ser humano, pois, com a aplicação do modelo mecanicista da física e da escrita matemática, a realidade humana passa a ser interpretada pelo discurso formalizado das Ciências Exatas; com efeito, a construção do conhecimento do humano não pode ser indiferente ao vivido. Como já bem afirmara Michel Foucault, ou é o homem ou uma ciência que, para se construir, precisa abandonar esse homem. Consoante o pensamento foucaultiano, o homem não poderia ser esse objeto inteligível de um saber científico, pois toda a ciência é reducionista, “modélica”, e o homem em sua complexidade, não cabe dentro de qualquer modelo. Ademais, as Ciências Humanas não podem e não devem enquadrar-se dentro de uma metodologia unitária, pois, uma efetiva teoria das Ciências Humanas deve ir além das verdades procedentes do conhecimento científico-objetivo. Na verdade, devemos ampliar o nosso conceito de Ciência e, ao contemplarmos as Ciências Humanas buscar emancipá-las tanto da objetividade quanto da neutralidade, ambos expedientes impostos pelos modelos explicativos de ciência rigorosa que freqüentemente ambicionam regulá-las.
GALILEU GALILEI [1564-1642]:
RENÉ DESCARTES [1596-1650]:
ISAAC NEWTON [1642-1727]
FRANCIS BACON [1561-1626]:
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